domingo, 3 de abril de 2016

Um jeito de não ser.

Deu um salto do sofá. Pegou suas roupas limpas separadas meticulosamente, se arrumou como se aquela fosse a última  oportunidade para alcançar a abóbora gigante.Pintou os lábios, os olhos, a cara...Já com o corpo limpo se olhou no espelho trocando de roupa umas mil vezes antes de constatar que não tinha roupa. Nada lhe caia bem...nem a roupa, nem a estima, nem a vida.

Sentou-se na  beira da cama  com as mãos na cabeça apoiandas no joelho. Tentou se ferir com pensamentos lembrando de todas as vezes que iniciou sua vida amora daquela forma e nunca havia dado certo. Pensou em desistir. Pegou o telefone ensaiou escrever uma mensagem desmarcando aquele encontro. Não queria ter o trabalho de olhar alguém nos olhos e não se ver. 

Vestiu-se de coragem, calçou os sapatos  saindo de casa como uma tempestade. Entrou no primeiro ônibus, já estava atrasada, não queria fazer  o outro esperar. Não curtia essa sensação, sabia que esperas eram sempre torturantes. ainda mais quando a espera envolvia o julgamento do outro sobre ela.

Apressou o passo, subiu as escadas correndo chegando esbaforida do outro lado da Estação. Enquanto descia a escada olhou nos olhos de quem lhe esperava e por um instante se sentiu completamente idiota por ter passado tanto tempo escolhendo o seu melhor...

Ela não era apenas o seu melhor, era também aquilo que havia de pior dentro dela...seus medos, seus desencantos. Pra porra quem não gostar. A demora em se arrumar não deveria nunca ser por um outro alguém. Deveria ser por ela, só por ela.  a necessidade de ser enxergar não poderia estar condicionada a outros olhos, mas aos seus refletidos naquele bendito espelho que tanto lhe diz sobre tantas coisas. Mas nunca lhe dá a chance de ser apenas quem ela é...confusa, difusa, gorda, linda, sexy...santa.


"A placa de censura no meu rosto diz:
Não recomendado a sociedade
A tarja de conforto no meu corpo diz:
Não recomendado a sociedade"


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“Seja você quem for, agora, segurando a minha mão, sem uma coisa há de ser tudo inútil_ é um leal aviso que lhe dou, antes que continue a me tentar_ não sou aquele que você imagina, mas muito diferente. “ ---Walt Whitman----