Era angústia, era medo, era tanta coisa dentro daquele olhar. As pessoas acreditam que càrcere é viver preso em algum lugar sob o julgo da força bruta, que ora marca a pele, ora mancha a alma. Mas ninguém está ileso. Nem quem fere, nem quem sofre. Sempre me pergunto... que direito impiedoso é esse de culpar o outro por sua própria covardia, pelos seu espanto, pela constatação monstruosa de que também faria o mesmo, sim tu és igual ao condenado. O que não sabes é que fazes bem pior tentando se livrar do peso, da dor, da morte, de ser...não só o carcereiro, mas o encarceirado no submundo dos afetos contraditórios.
Não conte, não fale, não denuncie a dor, a fome...Guarde no peito longe do que possa ser feito. Se for chorar, que seja embaixo do chuveiro onde as gotas de água ajudam a abafar o som da sua alma a agonizar. Apenas ignore, assim não piora. Uma hora tudo muda. O càrcere termina, a vida segue com suas ilusões. Mas saiba, as marcas nunca te deixarão...
"Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu"
Chico Buarque
Nanda Acioly
Nenhum comentário:
Postar um comentário